Revisitando o passado.
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| Um dia ensolarado. |
Porque o passado parece ser mais confortável?
Um dia desses tive a oportunidade de ver o apartamento onde cresci completamente vazio, sem nenhum dos móveis e sem ninguém por lá. A cada cômodo que revisitava sentia uma dor. Não tenho a intenção de ser exagerada dessa vez, mas o sentimento que começou como nostalgia passou por um caminho que se transformou em desconforto em meu peito.
Eu era capaz de ver diante de meus olhos toda a minha infância, podia escutar as risadas que dei naquele lugar, ouvia o programa de TV que assistia na sala, o barulho da máquina de lavar e até sentia o cheiro do almoço sendo preparado.
E você deve estar se perguntando qual a minha resposta para a pergunta que iniciou esse texto e eu finalmente consigo responder: o passado é confortável porque já passamos por ele. Ele tem começo, meio e fim. Você já sabe exatamente como aquele problema foi resolvido, que aquele joelho ralado sarou, hoje você sabe que aquela prova de ciências não estava tão difícil assim.
E é daí que vem minha dor no peito.
Dói saber que podemos encontrar conforto no passado por ele nos mostrar as soluções que naquele momento ainda não sabíamos que seríamos capazes de encontrar, mas é uma dor engraçada, se assim posso dizer. A vida veio para ser desconfortável e nós viemos para nos adaptar a isso. Temos medo do futuro porque optamos por fazer do presente um grande estacionamento de nossas vidas, sempre olhando para trás buscando a receita mágica de como fomos capazes de resolver as coisas e colocar nossas vidas nos trilhos.
Em algum lugar ouvi alguém falar que o passado é lugar de referência mas nunca permanência e acredito que essa visita foi capaz de me ensinar uma lição: somos capazes de evoluir porque não sabemos o que vem depois. Pode parecer confuso mas a verdade é que a vida é o que acontece quando não sabemos o que vai acontecer logo em seguida. Viver é se arriscar e se arriscar não vai ser confortável.
"O que você faria se soubesse que não iria falhar? Quão alto você iria apostar se você soubesse que iria sobreviver a cada coração partido, cada tombo, cada traição? O que você faria se já soubesse que as coisas que tem medo não significassem nada além de oportunidades de te tornar mais forte na sua fé e resiliência? O que você faria? Quem você amaria? Quanto você apostaria? Onde você saltaria?"
Apesar de gostar de lembrar de toda a minha infância e de todos os anos que passei naquele apartamento, apesar de adorar ter conversas sobre tudo o que vivi e apesar de contar histórias sobre aquela versão de mim, está na hora de lidar com o presente e sair dessa estagnação. São tempos de realizar tudo o que minha versão ainda desconhecida terá como referência futuramente, mas dessa vez, sem sentir dor no peito por ter ficado tão encantada com o passado. Dessa vez ela encontrará paz em saber que ao invés de viver para agradar a versão do passado estará vivendo para o exato dia em que se encontra. Sem usar o passado como obstáculo e sem enxergar o futuro como algo assustador.
Tudo é realmente mais bonito porque estamos condenados. Nunca estaremos no mesmo lugar sendo as mesmas versões por mais de uma vez e isso é maravilhoso.
Saiba colecionar suas lembranças sem sentir que precisa viver por elas.

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